“Gracias al testimonio de una compañera de huida sabemos cuál fue el último objeto de valor que conservaba Walter Benjamin: un reloj antiguo, de oro, un resto arqueológico de vida burguesa, un recuerdo de familia.”
blog
2017 vai assistir ao retorno dos blogs. Por um lado, parece ser a derrota das redes sociais, do diálogo, das aproximações, do grupo. Só parece: vimos que FB e cia. derrubaram a abertura à diferença.
Nessa expectativa, passarei a postar, por aqui, o que, durante alguns anos, compartilhei na timeline. Que seja para poucos, mas que seja por mais.
seres modernos
ser moderno
queremos ser contemporâneos
queremos qualquer
ser-se
se/quer
seremos
HyperNormalisation
“We look back at past ages and see how things people deeply believed in at the time were actually a rigid conformity that prevented them from seeing important changes that were happening elsewhere. And I sometimes wonder whether the very idea of self-expression might be the rigid conformity of our age. It might be preventing us from seeing really radical and different ideas that are sitting out on the margins—different ideas about what real freedom is, that have little to do with our present day fetishization of the self. The problem with today’s art is that far from revealing those new ideas to us, it may be actually stopping us from seeing them.”
De repente somos tomados de assalto
“É um livro para ser terminado em um único dia. Existe urgência nas palavras. Começando por Bia, personagem do primeiro texto. Em três páginas, Rodrigo traça o perfil de uma mulher forte, encantadora e de um gosto musical ímpar. “A Bia tinha tomate plantado no quintal. A Bia era de família rica. A Bia teve um verme no rosto. A Bia ficou sem dinheiro. A Bia foi internada em uma clínica de reabilitação, no interior de São Paulo, para tratar o alcoolismo”. O leitor se encanta com os personagens como se eles fossem velhos conhecidos. Um tio, um amigo, um namorado, uma amante ou uma madrinha.”
A vida como um gerúndio e vários particípios...
Por Krishnamurti Góes dos Anjos*
É como define a existência o personagem central do conto “Fernando e o particípio”, do novo livro de Rodrigo Maceira. A obra se chama “Até de repente” e reúne 7 contos e um sumário das músicas de uma fita K7 “Só sucessos” do grupo A-HA, banda musical que obteve grande popularidade nos anos 80.
Empolgamo-nos com a levada do A-HA, e experimentemos ler esta resenha ao som de uma das faixas. A música “Take on me” cujo link no youtube é:
Maceira é um autor que, julgando a farta referência musical presente em seus contos, tem mesmo “uma relação desmedida com os CD´s.
Mas expliquemos melhor a comparação que o personagem faz com o gerúndio no sentido de que essa forma verbal indica uma ação contínua que está, esteve ou estará em andamento, ou seja, um processo verbal não finalizado. O particípio expressando uma ação concluída, terminada. Com efeito, ciclos da vida que se interpenetram como nos diz a narrativa: “Quieto, Fernando alimentava a mania boba de classificar o mundo em gerúndio e particípio. O que vinha antes? O ovo ou a galinha? Todo gerúndio, acreditava, desembocava num particípio – mas o particípio era só um degrau na escalada de uma existência em andamento. A vida era um gerúndio com vários particípios”. (p.101).
Paulo Scott comenta com muito acerto, na orelha da obra, que Rodrigo Maceira tem a capacidade de fazer o leitor “imergir sem esforço na linguagem de muitas nuances, nas entrelinhas, na autopoiese do que está sendo contado, nas camadas ocultas (sempre as mais relevantes)”. Autopoiese (do grego auto, próprio, e poiesis – criação) é um termo que designa a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo essa teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético caracterizado como uma rede de produções (processos) em que suas menores partes produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas (partes) que as produziu. A conservação da autopoeise e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Portanto, um sistema vivo, como sistema autônomo que está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio.
Daí as referências culturais (sobretudo as musicais), que perpassam toda a obra e vão se entrelaçando por um pormenor, um detalhe, de uma forma tal que terminam por compor um denso painel da formação humana como ela se dá e se problematiza ao longo do tempo, vista pelo ângulo do sentimento e das perdas que vão ocorrendo. O narrador de “Manolo and the punks” sintetiza bem esse enfoque: “A noção de uma cultura pop palimpsestada (palimpsesto - texto que existe sob outro texto), com diversas camadas de autorreferência, ajudava a explicar a relação paradoxal, de atração e repulsa, que ele mesmo sentia diante de fenômenos como o punk e os quadrinhos. Era tudo incrível e rebelde, mas era tudo pastiche e integrado demais. Aquelas expressões eram denúncia e adesão ao mesmo tempo, a via de acesso rasa para, no século XXI, as mesmas questões profundas que atrapalharam o sono do homem de Cro-magnon”. (p.120).
Assim são personagens de Rodrigo Maceira – quase todas jovens flagradas em seus momentos de busca e perquirição. De encontrar o sentido das próprias vidas. Vejam a exemplar definição de existencialidade no trecho: “Estávamos todos ali, todos eles, todos nós, sinceramente tocados pela idéia de que muita coisa na gente repete sonhos que nos inauguraram, antes sequer de a gente ser, antes de os anos, as décadas e os séculos espelharem as saudades que a gente vai produzir”. (p. 48). Assim nosso caminhar por gerações e gerações... E por falar em saudade, a geração que hoje anda na casa dos cinqüenta, deve lembrar-se da música do A-HA, de que falamos, vale a pena escutar e lembrar:
https://youtu.be/djV11Xbc914
Ouvi-la nos fará entender melhor a frase solitária do conto Rebento: “You’ll end up crying with your mother’s eyes”. Em tradução livre: Você vai acabar chorando com olhos de sua mãe.
Livro: “Até de repente” – Contos - de Rodrigo Maceira.
Editora Oito e meio, Rio de janeiro, 2016, 208p.
(*) Krishnamurti Góes dos Anjos. Escritor, Pesquisador. Autor de: Il Crime dei Caminho Novo – Romance Histórico, Gato de Telhado – Contos, Um Novo Século – Contos, Embriagado Intelecto e outros contos eDoze Contos & meio Poema. Tem participação em 22 Coletâneas e antologias, algumas resultantes de Prêmios Literários. Possui textos publicados em revistas no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro publicado pela editora portuguesa Chiado, – O Touro do rebanho – Romance histórico, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional - Prêmio José de Alencar, da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance.
em voz alta
Uma vez, na aula de redação do colégio, a professora escolheu um texto meu para ler em voz alta. Conforme ela andava com a história, e esboçava um ranger de dentes aqui e um peito estufado ali, eu percebia que, de fato, havia se envolvido na trama e migrara para experimentar, ao lado dos personagens, o que a narrativa entrelaçava. Foi bom demais ouvir aquilo, sentir aquilo e entender que escrever, e ler também, era por e para aquilo.
Mais tarde, numa palestra com o Skármeta, o chileno encerrou perguntando se havia alguém, entre os alunos, com planos de se tornar escritor. Fiquei quieto e tímido, porque não sabia o que era escolher ser escritor. Para mim, escrever era, e continua sendo, escrever, sentir essa compulsão por tentar fazer caber na palavra tudo o que fica sem entendimento fora dela. Quando menos esperava, a professora, a mesma que lera meu texto para toda a sala, veio até onde eu estava e sugeriu: "Você vai ser escritor, não vai, Rodrigo?".
Lendo essa resenha que o Thiago Sobrinho escreveu para Até de repente, pensei nesse episódio, porque consigo imaginar o Thiago tropeçando ao lado dos personagens do livro. Consigo ouvir ele lendo várias passagens do texto em voz alta.
Sobre "Heroes", Thiago escreveu: "O texto, um dos melhores do livro, tem como chão a amizade de um grupo de jovens que ainda não foram brutalizados pela pedreira que é a vida adulta".
Bingo.
son
Esse quadríptico em vídeo dos argentinos Entre Rios vale cada clique e cada segundo de todas as vezes (porque uma não dá conta) que você usará para sorver a trama.
Precisa seguir por aqui, a partir de um computador (não funciona em telefone).
o corpo educado é o corpo que sente
“Mas, simultaneamente, a carne é o caminho de abertura ao mundo. Testando-se, o indivíduo testa o acontecimento do mundo. Sentir é ao mesmo tempo desdobrar-se como sujeito e acolher a profusão do exterior. Mas a complexão física é apenas um dos elementos do funcionamento dos sentidos. O primeiro limite é menos a carne em si mesma do que aquilo que a cultura fez dela. Não é tanto o corpo que se interpõe entre o opõe e o mundo quanto um universo simbólico.”
"Até de repente" por Sérgio Tavares
Sérgio Tavares fez essa leitura generosíssima de Até de repente.
“Não é o caso de uma escrita experimental, e sim de uma que leva o leitor a frequentar outras experiências. O enredo nuclear está lá – e este se sustenta na conjunção de enlaces e de fraturas de relações pessoais -, porém a prosa ganha de fato substância na atração de um repertório incidental, nas estações de uma voltagem que ilumina as lateralidades em detrimento do plano central onde a ação ocorre e define os destinos dos personagens. A matéria-prima é a arte, e o produto final também.”
uma resenha para "até de repente"
Sou leitor do Capítulo dois há bastante tempo. Gosto dos textos do blog justamente porque colocam a opinião do autor, separam o que interessa do que não cumpre a promessa, fazendo valer a função da crítica. Por essa razão, foi bom demais ler o texto que o Ricardo publicou sobre Até de repente.
“Pois bem, volto agora a ler outro livro de Maceira, “Até De Repente”* (Oito e Meio), nova seleção de contos, desta vez mais encorpados. E o impacto foi maior.”
