até de repente

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contos - Editora Oito e Meio (2015)

 

Prepare-se. Depois de ler Um céu diferente daquele de lá, você vai redescobrir – porque já sabia – como dói a saudade. Dói, na carne, mais do que o retrato na parede. Ao contrário do que  ignorava Penélope, não a tecelã, mas a personagem de um dos contos desta coletânea, o tempo faz a gente saber das coisas: nem todas, nem tantas, nem suficientes. Mas faz a gente saber. E o tempo não cura nada; o tempo, no máximo, anestesia a dor. O tempo, em seu avanço voraz, deixa migalhas de saudades no caminho. Saudade: o cá  presente do lado de lá. Ou o lá redivivo aqui, dentro de nós. A saudade move os personagens deste livro-móbile, obra caleidoscópica como a memória ao montar os estilhaços de lembranças. Os protagonistas de uma história renascem em outra, encontram-se, juntam-se e, então, separam-se – pois o que os une, e a nós também, é um passado comum ou o sonho (que nunca se realizará) de estar continuamente juntos. Você vai se comover com a história de Pollock, não o artista, mas o cão dálmata. Vai se surpreender, como em sua primeira grande perda, ao perceber que o mundo é regido pela adição apenas dos minutos, um mais outro, fazendo (e desfazendo como nuvem) a vida. Vai se sentir como a tia Marli quando Rafael pediu de presente de Natal algo que ela, e ninguém, jamais poderá lhe dar. Você vai se encantar com Carolina, Ada, Fernando, o passageiro da linha 23, as tartarugas do tempo de lá, tão lindas... Vai se comover até com o breve e-mail da señorita Brommy a Julius. Rodrigo Maceira nos emociona com seus contos entre São Paulo e Barcelona, a língua portuguesa e a espanhola, a xícara da tia e a do irmão, o besouro e a borboleta, o céu sobre nossa cabeça e o céu que sonhamos, onde as belas histórias deveriam pairar – tanto quanto estas daqui. Prepare-se. Ao gastar seu tempo na leitura de Um céu diferente daquele de lá, você vai saber coisas, muitas, das quais havia se esquecido. Coisas acesas na pele de seres que, no fundo, somos nós – eu, você e o Rodrigo Maceira – escritor que já nasce grande, como toda saudade que faz jus a esse nome.

João Anzanello Carrascoza

 

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