“Uns trinta metros praia acima, num pavilhão aberto, uma orquestra de jazz tocava ferozmente ‘Tiger Rag’. A canção me lembrava de uma história de Ben Hetch sobre um antropólogo que buscava remotamente modos e costumes primitivos; mas, vejam só, depois de uma vida de cabelos grisalhos, e em sua própria cidade natal, o grande professor encontrou a música e dança tão exóticas quanto os requebros cerimoniais de qualquer clã antediluviano de selvagens de Fiji.”
merchan
la nave va
Há 10 anos, quando estudava Teoria e História da Representação Audiovisual na UAB, em Barcelona, tive a oportunidade de entrevistar Marcelo Masagão para o trabalho que propus à disciplina do professor Josep Català. Usei imagens de Nós que aqui estamos por vós esperamos e lembro bem que, ao final da apresentação, mr. Català estava emocionado e se declarava emocionado. Comentou a respeito de uma exposição em homenagem a Barthes, que vira em Paris, algum tempo antes; falou sobre a melancolia em Barthes e sobre a certeza de que ele se deixara atropelar. Foi assim que li A câmara clara, com um título diferente em espanhol, e saquei um pouco mais a comoção do Català e toda a minha vontade de chorar diante da maestria com que Masagão justapõe as imagens em seus filmes. É pura poesia, puro ensaio de antropologia.
poetweet
Artes
“Penso que devíamos deixar bem claro que a arte como comunicação é um trabalho para pessoas especialmente dotadas, mas a arte como terapia é algo que provavelmente todo mundo deveria praticar para seu próprio bem. ”
Declaraçãozinha polêmica do mr. Huxley.
pay with a poem
A guerrilha midiática do Montgomery faz alguma rapaziada torcer o nariz para o artista/poeta. Mcluhan teria dado um curtir.
a ver navios
Tem dessas fotos que substituem o livro da semana. As pessoas que olham daqui, as que passam do lado de lá - e se elas se cruzassem alguma vez? No porto, o colorido cobre o corpo e espelha os containers no navio. De um lado, a coisa anda parada; do outro, atravessa, devagar. Metáfora e metonímia. Poesia.
Clique-poema e título por Vitor Henrique (Alvarinho).
O meio é a mensagem
“Their findings, presented last November at the 170th Meeting of the Acoustical Society of America (ASA), claimed that the variations among the dialects exhibited a phenomenon previously only seen in birdcalls and other animal noises—acoustic adaptation. Put simply, acoustic adaptation maintains that the land where a language is born is also instrumental to how it evolves.”
3 tardes
eu acho
que
quem disse que toda uma vida
para envelhecer
quando quantos anos posso
morrer
eu posso
em
três
eu disse três tardes
separar, despedir, demitir
um quarto, um carro e uma sala
uma gastrite
passou, viu
o frio e a insônia
a noite toda acordado
porque vão desaparecer
aquela tarde, aquela aurora, aquele álbum de família
quando e onde doía muito menos
pensar
sentir
e ser
o que seria, sem volta, hoje,
acontecendo
nem tão mais tarde
mas três tardes depois
Biancoshock - Ephemeralism
ídolos menores
“Ouvir rádio ou ler uma página impressa é aceitar essas extensões de nós mesmos e sofrer o ‘fechamento’ ou o deslocamento da percepção, que automaticamente se segue. É a contínua adoção de nossa própria tecnologia no uso diário que nos coloca no papel de Narciso da consciência e do adormecimento subliminar em relação às imagens de nós mesmos. Incorporando continuamente tecnologias, relacionamo-nos a elas como servomecanismos. Eis por que, para utilizar esses objetos-extensões-de-nós-mesmos, devemos servi-los como a ídolos ou religiões menores. ”
Ou: o plástico-bolha como um meio quente.
and not feel like you’ve got some kind of social responsibility
“You can’t be born in Birmingham, Alabama, in 1955 and grow up in South Central [Los Angeles] near the Black Panthers headquarters, and not feel like you’ve got some kind of social responsibility. You can’t move to Watts in 1963 and not speak about it. That determined a lot of where my work was going to go.”
Cut-up
“Terri C. Smith writes about two divergent connotations of the term cut-up: it implies both works of art made by extracting and reconfiguring source materials to produce something new as well as a mischievous prankster that disrupts order, promoting confusion by upsetting social hierarchies.”
O texto sempre vai aprender com a arte. A bricolagem, essa maneira de construir à base de reconstruções, de produzir cultura a partir da recombinação, explicou Mr. Strauss, é um procedimento que viabiliza a vida em grupo - naturalmente mimética -, em tempos e lugares diferentes.
Burroughs ficou famoso por fazer do procedimento uma "técnica literária", mas, na prática, sabemos, os futuristas já tinham pescado palavras na publicidade, e Tzara, picotado jornal para escrever poemas.
