popismo

Na pilha de livros que têm se revezado por aqui, a bem boa edição da Cobogó para Popismo, com as assinaturas de Warhol e de sua secretária, está coincidindo com um texto do Danto sobre a Brillo box, os limites da arte e o percurso da beleza como categoria definidora do "artístico".

Entre as centenas de festas na Factory, uma das coisas mais legais do livro do Warhol, que costuma ser legal em todos esses livros de artistas (plásticos, escritores, músicos etc.), é o cruzamento de personagens que, apesar de contemporâneos, nunca tinha imaginado juntos num grupo de discussão. Nesse caso específico, são os contatos entre Warhol e Mekas. 

Vale ler.

Capitalism and the play of language

Rather, it worked like this: there used to be material labor; now there is immaterial labor. Its a different kind of labor. Its the opposite! But its still only a modified capitalism, a cognitive capitalism. Its not material any more. Capitalism itself is about ideas. Its striking how much one can get carried away with the play of language, and forget to look at the world. Somehow, I don’t think the hundred million industrial workers of China perceive their work as immaterial.
— http://www.publicseminar.org/2016/05/the-sublime-language-of-my-century/

o barato da poesia, ou a poesia barata

Várias são as vezes em que a gente se descobre aflito por reconhecer alguma semelhança entre o que acontece na arte e na publicidade. Vamos encaminhar, bem rápido, um porquê possível. 

Poucos dias atrás, o Burger King fez esse desvio - bem na linha do détournement situacionista -, para homenagear os 90 anos da rainha Elizabeth II. Se há quem ache a ação simpática e "oportuna", há certamente quem enxergue nela simples oportunismo. 

Agora, vamos dar uma olhada nesse trabalho do Robert Montgomery, parte de três "billboards" que o artista instalou em Londres, mesma cidade da loja do Burger King, lá em 2012.  

Montgomery se diz herdeiro dos situacionistas e é também da linhagem dos artistas que criam a partir do remanejo de signos consagrados pela cultura midiática. Seja no uso de outdoors, como no exemplo aí de cima, seja em seus versos emitidos em lâmpadas néon, o escocês invade a comunicação "de massa", como já havia acontecido com diversos trabalhos da Pop Art, para subverter seus sentidos originais. Evidentemente, parodiando letreiros publicitários, o artista não deixa de se aproveitar da força de promoção que esses meios adquiriram desde o final do século XIX. Mas, segundo Montgomery, o procedimento seria meio um "feitiço contra o feiticeiro".

O que interessa nesse post é tentar entender o que existe em comum por trás dos dois processos criativos e por que reconhecer tal semelhança pode incomodar.  

Semelhança, "concentração sêmica", afinidade de sentidos, é a matéria-prima da metáfora. Tanto no caso do letreiro do Burger King como na obra de Montgomery, existe uma semelhança em relação à comunicação publicitária. "Isso é uma publicidade". "Isso é como uma publicidade".

Por outro lado, mais sutil, porque já nos acostumamos com ele, relacionamos esses formatos, esses meios (painel, letreiro, outdoor) com a publicidade por uma relação de contiguidade. Ou seja: por sempre carregarem mensagens publicitárias, entendemos que toda mensagem que veiculam é publicidade. Essa construção de sentido obedece à lógica da metonímia, quando um elemento é índice do outro, por, de alguma forma, ser reconhecido como parte constitutiva/derivada dele. 

Como muito didaticamente ensina o mestre Pignatari, referindo-se ao linguista russo Jakobson, as mensagens que se constroem simultaneamente por processos metafóricos e metonímicos são as que evidenciam a função poética da linguagem. Em outras palavras: um texto com cotas semelhantes de metáfora e metonímia, e dependente desse casamento para fazer sentido, é um texto poético, um texto que traz à tona a força da mensagem.

Queiramos ou não, e essa seria a façanha das análises de um mestre como o Pignatari, às vezes, e para além da ideologia, a publicidade e a arte podem coincidir na poesia. 

O Brasa e as vanguardas

Ótima leitura para pensar as trocas entre as vanguardas históricas europeias e o Modernismo brasileiro. Benedito Nunes acompanha os passos de Oswald de Andrade para destacar a cota de originalidade da antropofagia do autor do Manifesto da Poesia Pau Brasil. A discussão é tão boa, e pertinente, que abre caminhos para diversas especulações sobre as contaminações "pós-modernas" entre arte, literatura e textos da cultura midiática. 

http://www.revistas.usp.br/ls/article/viewFile/25428/27173

 

Loving Vincet

Li uma nota sobre esse que seria o primeiro filme integralmente produzido a partir de pinturas. Do que escreve a BBC, o mais divertido provavelmente será ver e ouvir as entrevistas cedidas pelos personagens das telas do Van Gogh. Hibridismo midiático a favor da imaginação, da fervura do caldo da cultura.