o que é literatura?

Bakhtin não se ateve à crítica da definição formalista da literatura (para substituí-la por outra); não, ele simplesmente renunciou a procurar a especificidade literária. Não que essa tarefa perca todo sentido a seus olhos; mas esse sentido só existe em relação a uma história particular (da literatura ou da crítica) e não merece a posição central que lhe atribuíram. O que lhe parece agora muito mais importante são todos os laços que se tecem entre a literatura e a cultura, enquanto “unidade diferenciada” dos discursos de uma época. Daí seu interesse pelos “gêneros primários”, isto é, as formas de conversação, de discurso público, de trocas mais ou menos regulamentadas. Mais do que “construção” ou “arquitetônica” a obra é acima de tudo heterologia, pluralidade de vozes, reminiscência e antecipação dos discursos passados e futuros; cruzamento e ponto de encontros; ela perde de repente sua posição privilegiada.
— Todorov

conspiração

But the Link kiosks will pay for themselves by displaying onscreen ads that will be “hypertargeted” to people within range, based on data their smartphones silently provide. This explains why the smart city is being hailed as a breakthrough in marketing circles. And yet, contemplating the kiosk (or monolith, depending on your point of view) just installed outside my lower-Manhattan apartment house, I can’t help thinking about the “Credit Poles” in Gary Shteyngart’s novel “Super Sad True Love Story.” In Shteyngart’s unnervingly prescient satire, these ubiquitous, faux-rustic street fixtures display the credit ranking of every passerby in L.E.D. numerals—flashing red L.E.D. numerals, if the ranking isn’t high enough. Ratti and Claudel, citing the urbanist and author Adam Greenfield, write of “everyware,” an invisible network of sensors and cameras that finally achieves the ultimate dream of urban efficiency and security at the cost of anything resembling privacy.
— Frank Rose, 2016

Fui sempre simpático às teorias conspiratórias. Parece meio improvável pensar a opção pelo sedentarismo, pela progressiva concentração de pessoas em espaços curtos, sem imaginar o desenvolvimento de hierarquias e certa obsessão de um pela vida do outro.

Por isso, gostei dessa nota publicada na New Yorker, tratando dos cruzamentos entre os espaços físicos e virtuais, na construção e organização das cidades, num futuro que começa agora. Se a digitalização da informação garante, cada vez mais, acesso imediato a dados sobre o funcionamento do circuito urbano (trânsito, acidentes, incidentes, serviços), viabiliza, por outro lado, o monitoramento constante de quem acha - e só acha - que está observando a cidade acontecer. Como já virou clichê dizer, estamos sendo o tempo todo observados. 

O que a matéria destaca de interessante, para além do primeiro clichê, é a ideia de que, mais do que acompanhar nossos deslocamentos geográficos, performáticos, estéticos e sensíveis, dispositivos como smartphones estão fornecendo, permanentemente, dados sobre percursos mais íntimos: nossa rede de contatos, a localização geográfica da nossa rede de contatos, nossos likes, nossas buscas, nosso histórico de cyber flânerie, nossos gastos etc.

A possibilidade de exibição de anúncios, mediante dados colhidos dos nossos celulares, institui - de fato - uma dimensão ciborgue em cada um de nós. O aparelhinho passa a dizer e respirar como parte dos nossos corpos, moldando nosso espaço social, ao mesmo tempo que é afetado por ele, mais e mais um espaço sócio-tecno lógico e crático.

uprooting me

naquele dia
éramos dois horizontes na poltrona da sala
nave repousada na calmaria de dois olhos úmidos
quem sabe?
quando a gente pensa alguma coisa
e não diz
quando a gente deixa de dizer
Om
procura aquela música
traz um pouco de suco
olha que gracinha
queria o dia pra sempre
horizonte
oh rizo- longe
vai chegar?
e de lá
adivinha?
não há
de ter
volta

Blu, helped by a group of activists, covered over his own works with grey paint

A week later, on March 18, an exhibition called “Street Art: Banksy & Co” was scheduled to open. The exhibition was organized by the Fondazione Carisbo, a local bank-owned foundation whose president is Fabio Roversi Monaco, the former rector of the University of Bologna, as well as the former president of BolognaFiere, a public-private partnership that organizes exhibitions. In Bologna, the name Roversi Monaco evokes power, money, and banks. The exhibition was expected to display works of art removed from walls with the stated intention of “salvaging them from demolition and preserving them from the injuries of time,” which means turning them into museum pieces, and eventually transforming them into value.
— http://www.e-flux.com/journal/blus-iconoclasm-and-the-end-of-the-dada-century/

art and illustration

In 1901, for example, Bok offered reprints of Ladies Home Journal illustrations (without text) for sale to the public. The notice stated that the reproductions (by W. I. Taylor), if framed, were ‘works of art fit to hang beside any painting’. [...]

Artists and editors were conscious of vocational differences between illustrators and career painters. Nevertheless, the practices of Curtis, Bok, and Lorimer contributed to a blurring of borders between art and illustration on the part of the general public, who framed the pictures of and for whom such covers signified ‘art’.
— BOGART, 1995, p.23
John Sloan, "The Football Puzzle" (outubro de 1901)

John Sloan, "The Football Puzzle" (outubro de 1901)

ser outro

Toda vez que o leitor revive de verdade o poema, atinge um estado que podemos chamar poético. Tal experiência pode adquirir esta ou aquela forma, mas é sempre um ir além, um romper os muros temporais para ser outro.
— Octavio Paz, 1967

imagem e criaçao

Ser ambivalente, a palavra poética é plenamente o que é - ritmo, cor, significado - e, também, é outra coisa: imagem. A poesia transforma a pedra, a cor, a palavra e o som em imagens. E essa segunda característica, ser imagens, e o estranho poder que elas têm de suscitar no ouvinte ou no espectador constelações de imagens, fazem de todas as obras de arte poemas.
— Octavio Paz, 1967