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sentado diante do computador porque a gente sente que o fim do domingo é o fim de tantas coisas. é tanto que eu vejo quando penso que esse domingo não é mais o mesmo nem nenhum dos domingos que me ensinaram a saudade que eu não sei explicar bem. eu vejo uma mesa de almoço. eu vejo duas, na real. o chão é acinzentado, parece efeito de grão adicionado num app de foto de celular. a disposição das cadeiras - e das pessoas nas cadeiras -, recriadas na memória, me faz pensar numa pequena orquestra que vi tocar em zurique. é bonito. a segunda mesa, mais recente. estamos comendo macarrão num dia que não se repete, nem como farsa, de novo ou depois. conversando sobre algumas decisões de gente da família, nosso jeito de conversar sobre a gente e não falar da gente, falando de quem? é tudo leve, e triste por ser leve e - que pena - ter fim. é assim. no fundo, a conversa de domingo que não tem mais sabia do peso que carregava por ser consciente de que não seria mais. seria menos. e menos com menos não é mais. naquela mesa, naquela sinfonia, naquela tarde de um ano inventado para ser presente, passado e projeção de um mundo que aconteceria - curiosamente, a tarde que não se repeteria, queria e foi pra sempre. cadê? cadê vocês, cadê eu, cadê laurinha? não tem como, tem como, não não sei como. eu lembro da gente rindo de coisa boba, de quando você experimentou a bicicleta na área de serviço e, rindo um riso bobo, aquela certeza de que era também por aquilo que os domingos leves - e tristes - valiam toda a pena. a nossa pena. a pena que eu sinto de mim, diante do computador, da dor de todo domingo que, no fim, é outro fim, um fracasso, a gente não estica o tempo, não.