o jogo das tribos do não

Talvez a maior resposta que o homem ocidental tenha oferecido à corrida industrial do final do século XIX, que adentrou todo o século XX e que, hoje, permanece ressoando sob expressões como "internet das coisas", "design thinking" ou "big data", seja o retorno apaixonado ao mundo de regras paralelas do jogo. Praticamente toda poética de resistência que tentou ganhar terreno no século passado foi um convite à "brincadeira". Mesmo quando ela foi séria. E, aqui, me lembro do hipotético compartilhamento etimológico das palavras brincar e vincular. O jogo prende quem joga.

Hoje são bem famosos os figurinos de Oskar Schlemmer para as festas da Bauhaus, nos anos 1920. Sempre que vejo essas fotos, encontro algum paradoxo com o projeto de um design belo e funcional (a função antes da forma), mas nunca fui ler mais detalhadamente a respeito, para entender a justificativa para a "montação" delirante. Que tipo de indústria assumiria o risco de introduzir essas fantasias, em larga escala, na vida cotidiana?

A estética do jogo atravessou as vanguardas e toda iniciativa contracultural que tentou propor alternativas à vida de produção e consumo. Mesmo uma Bauhaus, que buscava racionalizar a criatividade, teve momentos de sedução diante da imaginação não utilitária. À sua maneira, marcas como Google (e toda geração Vale do Silício) forjam isso quando circulam a decoração divertida dos seus escritórios na Suíça (berço dadá!).

Coincidência ou não, olhando algumas fotos do Ed van der Elsken, fotógrafo holandês que, a partir da década de 1950, entre Amsterdã e Paris, sempre flagrou o jogo das tribos do não, achei essa imagem beleza de 1961. Fiquei um tempo imaginando como esse retorno à brincadeira é mesmo o resgate do ritual "primitivo" perdido, que tanta possibilidade de mundo abria ao ser que pensa por meio das imagens. Fiquei pensando o que de errado aconteceu, no meio do caminho, que trocou a vida do "pode ser" pela realidade do "não pode", o cotidiano de imaginação pela publicidade da sugestão. Turner, o antropólogo inglês, põe a culpa na industrialização da cultura, que separou o trabalho do lazer.